terça-feira, 5 de outubro de 2010

Estaremos presos num mundo de ilusão?


Será que passamos demasiado tempo a viver a vida dos outros? E será que o fazemos para não prestar demasiada atenção na nossa própria vida? É para isso que serve a televisão. Para sairmos de nós, não temos de nos encarar, nem perceber que existimos. Existe outra vida, que tomamos como nossa e que acompanhamos religiosamente no rectângulo mágico.

Com a vinda das novas tecnologias que nos permitem ter acesso a inúmeros canais e gravar aqueles episódios que passam quando estamos ausentes, a situação piorou. Assim que chegamos a casa perdemos a nossa identidade. Basta premir o botão no comando e seguir viagem pelos sapatos de outras pessoas, que por vezes nem sequer existem. Vivemos os acontecimentos da estrela principal de perto, como se fizéssemos parte de uma qualquer série ou então deixamos mesmo de existir, convencidos que tudo o que dá no televisor é melhor, tudo nos ultrapassa, tudo é mais interessante do que estar connosco, sozinhos. E quando estamos com alguém, talvez seja a forma de fugir para dentro de um DVD para não encarar a companhia.

Ao seguirmos determinadas séries queremos seguir determinados estilos de vida, ter uma parte daquela felicidade ilusória que passa todos os dias às 21.00h. Queremos ser como eles, ter o que eles têm, e transparecer um ar de simplicidade acompanhado por muitos amigos que aparecem sempre no momento certo.

A vida não é assim. Por vezes a televisão inspira-se na vida real, mas não podemos cair no erro de considerar que a ilusão nos vai inspirar melhor, quando aquilo que faz é afastar-nos de nós próprios...

1 comentário:

  1. Anicas, achas mesmo que somos assim tão acríticos, ao ponto de recorrermos à televisão (ou mais concretamente às séries, que julgo serem o veículo privilegiado de evasão por ti que eleges no teu post) para nos abstrairmos da realidade? Ou ao ponto de “perdermos a nossa identidade” para mergulharmos num outro personagem qualquer (que é como diz…pegar na bengala do Dr. House, vestir a bata da Meridith Grey ou meter os óculos do Horation Caine)? Ou será que recorremos à TV e às séries apenas como entretenimento, depois de um dia cansativo, em que nos apetece tudo menos pensar?

    O teu ponto: a inspiração advinda das séries televisivas “afastam-nos de nós próprios”! O meu ponto: existe um nós próprios a preservar ou somos antes um construto, algo em permanente construção? Não somos nós uma esponja cuja personalidade se vai moldando com a vida, com a experiência? Se as séries nos influenciam? Talvez…um bocadinho…mas não nos podemos isolar numa redoma que nos proteja das influências exteriores, pois o “nós próprios” é um ser errante e indomável que se transforma todos os dias…

    Se é uma fuga? Talvez. Se é isolamento? Quiçá…mas por certo um livro não o será menos…e muitos livros conhecemos que não têm menos de entretenimento que uma série qualquer…sinais dos tempos?

    PS: não vejo mais do que um par de séries…

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